O país vem vivendo uma onda de protestos, iniciada em junho deste ano com o Movimento Passe Livre, que organizou diversos atos contra o aumento da passagem do transporte público. As manifestações, que começaram modestas e de pauta única, foram aumentando, ganhando uma proporção gigantesca e assuntos variados, principalmente depois da violenta reação da Polícia Militar contra os manifestantes, amplamente divulgada pelas redes sociais, como Facebook e Twitter. Consultores especialistas em comunicação empresarial e recursos humanos analisam os fatos e chegam a uma conclusão: a falta de um diálogo constante e permanente entre população e líderes governamentais pode ter sido uma das principais causas para o crescimento dos protestos.
Para o consultor Orlando de Souza Lima Júnior, da HGM Consultores, o que ocorreu nas ruas também acontece nas empresas, pois “quando as pessoas não encontram espaço e ambiente propícios à manifestação das suas insatisfações, podem se rebelar contra a empresa e seus representantes”. Especializado em Administração e Direção de Recursos Humanos, com experiência de mais de 30 anos, o consultor entende que as lideranças precisam criar meios de comunicação efetivos com a população e estar preparadas para ouvir e entender as demandas, além de dar respostas, explicando porque podem ou não ser atendidas.
Uma devolutiva negativa é muito mais bem-vinda do que uma “não-resposta”. É o que entende outro consultor empresarial da HGM Consultores, Agostinho Benedito de Moraes, formado em Administração de Empresas e bacharel em Direito. Ele diz: “A grande ‘sacada’ é você, líder, ajudar a equipe a desenvolver a maturidade. A partir disso, fica mais fácil aceitar um ‘não’ como resposta”. “Nós, como liderados, temos vontade e necessidade de sermos ouvidos e/ou respeitados, mas, quase nunca, temos este canal lubrificado. Este paralelo é o que acontece nas empresas: os líderes não ouvem seus colaboradores, o que, ao longo do tempo, se acumula a vontade de falar, e, às vezes, sem esperar, estouram as insatisfações, sejam individuais ou coletivas. Obviamente sabemos que nem todos os líderes têm má vontade em ouvir suas equipes, existem diversos motivos para isto acontecer, como falta de tempo, prioridades, cobranças, treinamento…”, analisa Agostinho.
Iniciado nas ruas com a pauta única do valor do transporte público, as manifestações ganharam em número de pessoas, estados e cidades participantes, além dos motivos, indo do ato médico, “cura gay”, até Copa do Mundo. “Nossa experiência mostra que a gota d’água é apenas o transbordamento. Quando há a revolta é porque já não se aguenta mais o arrocho. Retrato fiel de uma empresa, os colaboradores, por um item, às vezes insignificativo, como um feijão duro no jantar, se rebelam”, detalha Agostinho.
A HGM Consultores possui uma ferramenta chamada Ciclos do Diálogo, aplicada há décadas em empresas de diversos portes e segmentos, que, em sua proporção, poderia ser praticada no país. Agostinho explica: “A base do Ciclos do Diálogo é o processo do ‘Saber Ouvir’. Temos que considerar que é muito importante, principalmente para quem recebe a devolutiva, ter maturidade desenvolvida. E sabemos que esta só acontece através do bom relacionamento, por meio do respeito, confiança, gerando benefícios mútuos”.
Orlando aponta como seria, na vida real, desenvolvido: “Obviamente haveria uma dificuldade maior para aplicar o conceito e a prática do Ciclos do Diálogo no país, mas vejo que eles deveriam ser feitos a partir da preparação de lideranças representativas das diversas comunidades em âmbito municipal, estadual ou federal, para ouvir de forma organizada a população, entender suas demandas e preparar respostas para os assuntos mais significativos”.
Para finalizar, Orlando faz uma análise sobre o que está por vir. “Os políticos e os sindicalistas tentarão assumir a liderança do movimento, das manifestações, para tentar se legitimar perante a população, porém terão dificuldades para entender as verdadeiras demandas e dar respostas adequadas, até porque eles são parte do problema e não da solução. Quanto ao Governo, ele continuará agindo por tentativa e erro, se não parar para refletir e se esforçar para compreender verdadeiros motivos dos protestos. A população continuará se manifestando até encontrar respostas efetivas para suas demandas. Podemos ainda estar longe de um final feliz”, finaliza o consultor.
O diálogo é o caminho para a paz e harmonia nas relações no trabalho.
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